domingo, 24 de junho de 2012

Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação


Contrariando a vontade que é a de falar de absolutamente nada, queria renegar a existência cultural de alguém que se digne a divagar e debater sobre essas novas modas que são os filmes de conluio entre essas bestas assassinas imortais pintadas de todas as cores, com deuses nórdicos e homens verdes de raiva. Mais do que isto, é debater as diferenças entre estes filmes e os tão em voga do “Batman”. Sobre este último não há muito a dizer, de algo bem feito não se faz algo relevante. A forma não se sobrepõe ao conteúdo por muito adornado que este esteja. Ainda mais do que isto é pensar que entre o argumento de “Os Vingadores” e a novela de sábado à tarde vão só umas piadas mais trabalhadas, mas igualmente desconcertantes por falta de originalidade. Juntamos isso e uns pontapés que custam milhões a fazer e toda a gente vai ver. E vai daí, eu pensava que como estes homens já fazem isto há tantos anos, já tinham refinado a técnica. Qual é o meu espanto ao ver que, mesmo escrevendo o mesmo argumento durante tanto anos, uma e outra vez, este continua cheio de inconsistências e falhas que só fazem sentido se pensarmos que eles andam a fazer de nós burros. Não só para mim, que parto do princípio de não me quererem satisfazer a alma, mas a todos os que gostam e até adoram estas personagens e deliram com frases feitas e lutas espaciais. Como dizia no início, debater o que resultou ou não nestes filmes, fazer comparações entre eles, é um trabalho muito coincidente com o de fazer uma antologia de Marco Paulo e comparar o seu trabalho mais antigo ao moderno, se bem que, em verdade, ele neste momento faz odes ao Danacol.

Mais do que isto ainda, sinto-me estarrecido pelo que Scorsese anda a fazer. Vai, não vai, encontro pessoas a dizer o quão genial é a rodagem do filme e como ele caracteriza de uma maneira tão especial os primórdios do cinema. Não é ciência aeroespacial, sendo “Hugo” (não me importa se “Cabret” ou não) o filme que é, passando-lhe toda a redundância por cima, continua a ser, um zero tão absoluto no cinema que eu até tinha achado mais piada se ele tivesse posto um ecrã preto durante hora e meia e dissesse que estava a tentar recriar o fim do universo, que seria um zero bem mais interessante. Mais do que isso, é a noção do zero absoluto, que se lhe enquadra perfeitamente, já que passa pelo conceito de que nenhuma partícula se moveria sobre tais condições. O extraordinário é que isto é supostamente impossível, mas este homem consegue fazê-lo.

Passo a explicar minuciosamente que sem argumento não há contestação possível. O rapaz órfão que é muito humilde e espetacular e que passou por todas as dificuldades do mundo, a miúda que o vai ajudar a fazer o que ele tem de fazer, o velho rezingão que afinal se vai transformar uma pessoa bondosa e a personagem de alívio cómico mais abominável que eu já vislumbrei. Nenhum destes personagens consegue ser mais do que o lugar comum de um lugar comum. Mais do que isso, Scorsese nem sequer conseguiu ou quis disfarçar isso. Mais um pouco e até digo que o senhor Sacha Baron Cohen dá um papel deplorável sobre um personagem que se assemelha a um preconceito mal construído por piadas baratas e humor físico de um nível que se esperaria do teatro de revista português. Passando à história, que depois de visto o filme desejei que fosse mais um “Oliver Twist” com o Méliès metido à conversa, esta extrai-se de uma maneira muito hollywoodesca de um livro, que deve ter em comum com o filme o que o Demolition Man teve com o “Admirável Mundo Novo” do Aldous Huxley. Mais valia terem deixado o homem em paz na sua cova em vez de o obrigarem a contorcer-se cada vez que o Stallone entorta a boca e deixá-lo por creditar, pois não creio que alguém conseguisse visualizar semelhanças entre o livro e o filme a não ser um dos nomes que por lá é dado. Esta obra de Scorsese torna-se tão rebatida e extraordinariamente pouco esforçada em atingir originalidade que estou em vias de a classificar como remake universal, e com muita má consideração pelos seus predecessores, de todas as histórias sobre órfãos e meninos em desgraça que atingem e sonham com o sucesso que já houve por aí. 

E agora entramos no extraordinário mundo novo das rodagens elaboradas também fazerem de um filme cinema. Que mentira mais alta que esta se levante. Atingir efeitos especiais alucinantes ou conseguir fazer com que os cenários voem e façam piruetas, não faz mais por um filme do que adicionar preguiça ao imaginário de diretores e espectadores que por abnegação da história do passado já não querem outra coisa. Mas no mais recente filme de Scorsese nem sequer é isto que acontece, ele fez um filme em 3D com a ideia fixa de o usar com todo o seu potencial, e no final, com o que ficamos são meia dúzia de imagens de ponteiros de relógio do tamanho da torre Eiffel e a própria torre, que também não está muito favorecida. Mais que isso, usou um shot contínuo na última cena, que mais não fez do que acabar uma história muito medíocre com uma espetacular demonstração de que se as personagens não têm profundidade, se a história não é trabalhada e se os atores não são por aí além integrados na personagem, não há imagem que valha ou milhões que cubram. É como se estivesse apenas a pensar como poderia fazer a primeira coisa que lhe passou pela cabeça, sem passar mais tempo a pensar como poderia fazê-la melhor. Passando ainda mais pela ideia de que Einsenstein consegue extrair mais significado e mais interpretação de cada imagem do “Battleship Potemkin” do que este homem numa cena inteira, e o Einsentein ainda trabalhava com máquinas que não tinham muita vontade de se mover, pelo menos de forma tão ágil e sem qualquer tipo de efeito especial. 


Chegamos ao fim e encontramos a cena final do “Transformers 3”. E a partir daqui não há mais nada que se possa fazer ou dizer. Apenas um homem com milhões e milhões de dólares para montar um filme com robôs gigantes que lutam e dizem frases feitas enquanto o mau muito mau é eletrocutado. E o brilhante herói robô ainda diz de tão magnânima maneira, já sem o braço esquerdo, como o próprio deus, “eu não te traí, tu traíste-te a ti mesmo”. Tentem, se for possível, encontrar algo neste filme que não tenha sido já visto em mais dez ou vinte filmes que já eram maus por si. Tentem, também, explicar-me o porquê de havendo milhões e milhões de dólares para fazer coisas espetaculares, como filmes mais ou menos bons ou tirar a fome a meninos de áfrica que só comem moscas, dão que seja meio tostão a este homem para fazer seja o que for, nem que seja respirar. 

Se o mundo é este, se a esperança é esta, que se dane a cultura e a bonomia e a capacidade racional do ser humano. Que se danem todos os que conseguem fazer. Vamos todos gostar dos “Tranformers” e aceitar que o Scorsese é que percebe disto, afinal ele até é conceituado, ou pelo menos parece.

20 comentários:

  1. A crítica está muito bem, apenas não compreendo o que se critica: se a ausência de rigor na escrita de argumentos dos filmes em Hollywood, se a representação inadequada de personagens órfãs ou se a fome em África...

    Cumps cinéfilos.

    P.S.: é impressão minha ou fazes, a certa altura, uma rejeição total do artifício em Cinema? "Atingir efeitos especiais alucinantes ou conseguir fazer com que os cenários voem e façam piruetas, não faz mais por um filme do que adicionar preguiça ao imaginário de diretores e espectadores que por abnegação da história do passado já não querem outra coisa." todo o Cinema é artifício, a partir do qual se pode (ou não) extrair algo de culturalmente relevante.

    Nem que seja pelo entretenimento. "Pictures are for entertainment, messages should be delivered by Western Union", Sam Goldwyn.

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    1. Caro Sam, agradeço o seu comentárrio

      Respondendo à sua dúvida, suponho não existir realmente nenhuma. Mas obviamente que os maus argumentos levam a más personagens que não podem como tal ser bem representadas. Sobre os orfãos, estava principalmente a criticar as moscas.

      Sobre a rejeição do artifício. Digo por adianto que o cinema não é artifício mas sim representação. A teoria tencionalmente proposta seria a de que os meios para poder criar qualquer artificio levaram a que se perdesse a tendência para trabalhar as coisas, para as tornar melhores ou mais que não seja fazer alguma coisa de todo. A limitação leva à originalidade. Esse aspecto eu renego. A representação de uma imagem ou conceito ou história é o que o cinema é, pouco mais poderá ser.

      Não se pode confundir mensagem com informação, ou se se quiser então os filmes não têm mensageem absolutamente nenhuma. Eles podem esconder um conceito, ou uma ideia ou toda uma história que transmite mais do que uma palavra escrita por correio. Entretenimento não é cinema, são séries de televisão e sequelas más. A ideia de que deve ser entretenimento é que levou à ecatombe que hoje testemunhamos, onde o vazio preenche a mensagem. Se não há mensagem não se extraí nada, rigorosamente nada, zero absoluto. E este é o conceito principal, o zero absoluto é anti-humano. O entretenimento e o honanísmo são bons para passar o tempo, se o cinema é arte não pode ser nem é para passar o tempo.

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    2. Pessoalmente, estou em desacordo contigo :) O cinema parte sempre de (nem que seja "mecânica") uma ilusão óptica. Portanto, o melhor cinema será sempre o visual e acredito piamente que o Cinema é, acima de tudo, uma "arte visual" e que não depende sempre da representação de uma mensagem.

      Também não rejeito o factor "entretenimento" do cinema. E é tudo uma questão de percepção: o termo "artístico" tem sido colado a cineastas que, pelas suas próprias palavras, nunca viram os seus filmes como tal (Hitchcock e Ford são bons exemplos disso). E também dependerá sempre do "entretenimento" que se procura num filme. 2001: ODISSEIA NO ESPAÇO será das obras mais "artificiais" da História do Cinema, nunca me aborreço de observar o artifício ali criado pelos meios (vantajosos, é obrigatório mencioná-lo) de que Kubrick disponha e, não por acaso, é o filme da minha vida.

      Reitero que compreendo a crítica aqui feita ao HUGO, no entanto não o considero assim tão "vazio". Só em potencialidade pedagógica de Cinema, o filme é enorme.

      E, por fim, rejeito totalmente que vivamos uma, como referes, "hecatombe". Não defendi que todo o cinema seja entretenimento. Apenas uma parte, a qual não aceito que deva deixar de existir. Pois, felizmente, há alternativas ao cinema de grande orçamento oriundo de Hollywood, o grande visado por esta tua dissertação de "Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação"... :)

      Cumps cinéfilos.

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    3. O cinema é obviamente visual, mas muito mais do que uma ilusão óptica ou um efeito especial, tem a haver com o enquadramento e com a edição e as sequências lógicas dadas. As duas últimas podem ser feitas quase sem meios e são as principais, e esse é que é o ponto essencial. Como disse, o cinema e a imagem e a ilusão óptica transmitem sempre qualquer coisa, nem que seja a mesma coisa que já foi transmitida infinitas vezes, e por isso os que fazem isso com mestria e com originalidade valem sempre muito mais que os outros.

      O 2001 funciona porque é Kubrick, não se deixe iludir, os efeitos ópticos só funcionam e fazem um grande filme porque há uma ideia construtora por trás, porque está controlado e editado ao milímetro. Cada sequência está calculada ao milímetro e a edição sonora com os silêncios, as vozes monocórdicas fazem com que tudo pareça um. Qualquer outra pessoa com os mesmos meios só tinha feito redundâncias, ou zeros absolutos. Esse é que é o ponto essencial, nas grandes coisas há sempre uma ideia (a violência que cria evolução, o elemento estranho que trasnforma...) conceitos que são muito mais que as imagens que os mostram.

      Hugo em termos pedagógicos é ainda menos do que a página da wikipédia sobre o tema, e os rapazes da wikipédia fazem-no de graça. A pedagogia do cinema não pode ser feita por um filme tão mau, tão cliché, tão vazio de conteúdo, tão detractor da inteligência de um espectador. Enorme, como já disse, só no orçamento.

      A hecatombe passa-se exactamente porque nunca, mas mesmo nunca, houve uma tal concentração e quantidade de filmes tão maus por um filme bom que às vezes aparece. E isto só acontece porque nós aceitamos. E por cada vez que aceitamos isto e vamos ver um filme destes estamos a impedir que um filme potencialmente bom possa acontecer. Porque o que as produtoras querem é produzir filmes maus, porque dão dinheiro. E a cultura não acontecer porque as pessoas preferem ver tais obras pérfidas em vez de algo com ligeira originalidade é a pior hecatombe que pode existir, porque é escolher algo mau por cima de algo bom e fazendo com que o que é mau prevaleça. E se prevalece é o que passa para as crianças e a nova geração e toda a gente. Não há crime maior do que este, reduzir a humanidade à estupidez. Vai contra a própria evolução natural, e pior que isso vai contra a evolução humana. Tudo o que se perde porque toda a gente aceita e não protesta por algo novo. Por isso renego tudo isto e ainda algo mais.

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    4. "Não há crime maior do que este, reduzir a humanidade à estupidez. Vai contra a própria evolução natural, e pior que isso vai contra a evolução humana". Muito bem dito, mas quando é que, na história da Humanidade, existiram públicos maioritariamente instruídos? Quando é que cessou o "pão e circo" para o "povo"?

      Na minha opinião, demonstras uma visão demasiado teorizada e, passe a expressão, "sisuda" do Cinema. Contudo, e se me permites, faço as seguintes questão e sugestão: qual é, então, o género de cinema que consideras dever ser generalizado? e que tal escrever sobre e em defesa do mesmo?

      Cumps cinéfilos.

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    5. és tão estúpido que até se torna ofensivo perder tempo a ler o que aqui vomitas

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    6. "qual é, então, o género de cinema que consideras dever ser generalizado? e que tal escrever sobre e em defesa do mesmo?"

      Sim, concordo Samuel. Ser positivo e construir dá mais que fazer.

      Dizer mal por dizer, com frases feitas, lugares comuns, sem reflectir em mais cenários, descartando que a humanidade também carece de ser divertida, que a revolução industrial há décadas formou as classes operárias e lhes reduziu tempo lúdico, isto e tantas mais observações e perspectivas possíveis, quando o Axel até se põe a falar de "história da Humanidade" (a estúpida, portanto).

      Enfim... Axel, escreve lá sobre o cinema que mais te move e excita. Exclui-te de ser mais um na arte gratuita do mal-dizer dos filmes que supostamente não gostas mas viste sem falta.
      Sê positivo e não te deprimas tanto com o que não compreendes.

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    7. Ao Sam tenho apenas a responder não há nenhum género de cinema que se deva elevar, até porque a divisão em géneros vem do próprio público, devem ser generalizados filmes de qualidade, que se afirmem como tal. Quando faço a crítica negativa a um filme faço-o por comparação, e aqueles sobre os que comparo são os que considero que têm uma qualidade intrínseca. A defesa do cinema de qualidade é tudo o que faço e faço-o por antagonismo, só por comparação se consegue distinguir algo bom de algo mau. Mais do que isso, já disse que nunca houve tal concentração de filmes maus (e sem intenção de ser outra coisa), de em tantos cinemas não haver alternativa, de toda a publicidade e toda a gente recomendar os filmes maus acima dos que têm qualidade, essa é a minha batalha. Eu não digo mais do que o que devia ser óbvio para muitos. Digo-o e argumento-o, sempre, e fico surpreendido de, por vezes, gerar tal reboliço não argumentativo.

      Ao anónimo deixo alguns conceitos, vomitar é um reflexo de expulsar do teu organismo algo considerado como prejudicial e perigoso por vezes à própria vida, estupidez é dizer algo e não explicar porquê, valentia é escrever algo tão acintoso de maneira anónima. Mas está descansado que não és nada ofensivo.

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  2. Depois de lida a verborreia, até apetece dizer isto:
    Os cães ladram, fazem muito barulho mas não mordem (nem o sabem de tão mimados) e entretanto a caravana passa como se nada fosse.


    Axel, hoje em dia com tanta pluralidade criativa, tantas corrents de cinema, tantas diferentes abordagens a filmes, diferentes origens culturais, diferentes espectadores, diferentes gostos... nada no teu texto me ultrapassa a noção de perpetuares clichés argumentativos, prolongar o pretenciosismo snob superiorizado como tantos fazem e pior do que isso dirigindo ataques sem lógica a produtos incomparáveis.

    Hoje em dia, mais do que nunca, cada qual tem o seu cinema... pensa nisso. É como a fruta!
    (Repara que nesta minha única frase final há muitas noções embutidas: respeito, tolerância, compreensão, etc - não vi isso no teu texto... mais uma vez.)

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    1. Respondendo ao Armindo Paulo, por ordem, para não me perder. A revolução industrial, dentro de um contexto histórico, começou a concentrar as pessoas em maiores aglomerados, permitindo uma maior socialização e o começo, de uma maneira muito embriónica, da globalização da informação. Portanto, só a partir deste momento, o chamado entretenimento colectivo começou a ter uma maior dimensão entra as classes mais baixas. Considerando que também o cinema começou muito perto disto, com o primeiro filme dos irmãos Lumière, a saída dos trabalhadores de uma fábrica até é bastante simbólico neste sentido. Além disso, comparando a actividade do campo ao trabalho na industria há uma diminuição e não um aumento do tempo de labor, e consequentemente mais tempo de lazer. Estupidez, mais uma vez, é pegar nestas pessoas, rotulá-las como de inteligência menor e dizer que devem haver filmes péssimos para preencher horas de lazer. A questão é que podiam estar a ver filmes de maior qualidade, é um problema de habituação, só com algo de qualidade se pode começar a aumentar a cultura das pessoas, que num mundo com tanta globalização parece tão ignóbil o nível de ignorância ser tão alto. E é tão alto porque validamos estes comportamentos que diminuiem cultura, educação e inteligência.

      Eu sou muito a favor da pluralidade criativa, de todas as correntes de cinema possíveis e imagináveis. Por isso é que estou contra a não existência de pluralidade e a recriação do mesmo filme infinitas vezes. Sou a favor da originalidade, e como tal é necessário que seja contra a falta dela. Foi isso que escrevi no meu texto. Foi contra o mau uso de dinheiro e a divulgação de mau cinema. Mas sempre que o faço, faço-o por comparação, como o disse mais acima. Tudo é comparável, porque somos seres racionais capazes de o fazer, não podemos dizer que o transformers 3 é bom dentro do seu género e que não pode ser comparado ao Eisenstein ou a qualquer outro. São a mesma forma de exposição e, logo, necessariamente comparáveis. E mais do que isso, é importante acabar com o mito do "dentro do género", porque se tornou numa desculpa para fazer remakes com título diferente. Só na comparação com o que é mau podemos saber o que é bom, e só em comparação com o que é bom é que podemos saber o que é mau. À chacun son cinema mais il faut que cela soit du cinéma.

      Em nenhum ponto do meu texto fui desrespeituoso com seja o que for, mas pode-me tentar mostrar, ficarei agradecido. Apenas faço crítica a filmes como toda a gente, só digo coisas ligeiramente diferentes. Em falta de cultura e de falar em coisas que não se percebem não devo ser que mais peca por aqui. Mas dizer que o que eu digo é falso por causa disso é uma falácia, em termos filosóficos. Falta de tolerância é o que está escrito aqui mais abaixo, falta de compreensão é interpretar mal e falta de respeito são insinuações. Mas já que estamos em metáfora, diga-se que se um cão ladra só outro lhe pode responder.

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    2. Não és muito digno de se perder tempo contigo, uma vez que já és um caso perdido. Mesmo que ainda vás a tempo... talvez já não consigas ver para lá das ideias pré-concebidas que assentes em tantos snobs as dizerem.

      No teu texto apontas titulos e situações que me são evidentes serem do cinema industrial da actual Hollywood. Hollywood é uma indústria e como tal, teria de ter cinema baseado em modelos/templates/estilos/etc. Estamos a falar de uma indústria que existe não para promover arte mas sim para gerar lucro. O cinema de Hollywood é um negócio e dentro do seu contexto deve ser compreendido. Obviamente que qualquer negócio procura chegar ao maior numero de clientes possível (blockbusters), que perpetua fórmulas (variações de uma mesma ideia de filme), valoriza as suas matérias-primas (actores/realizadores/etc) para gerarem ainda mais valor (os prémios dos Oscars são o culminar de tudo isso), faz restyling a produtos já existentes (os remakes, são na verdade baralhar e voltar a dar)... entre muitas outras acções industriais, feitas para catapultar o sucesso económico.
      Tudo isso porque cada indústria procura dar aquilo que o cliente quer. Neste caso, dá com muitas opções e em termos pluralistas diferentes "cinemas" a cada um. E cada qual é que sabe o que quer ver.

      Da forma que escreveste, excluis que muita gente que vê o suposto filme "patético" (como tentas considerar em vão), esquecendo-te que a mesma pessoa pode perfeitamente acompanhar outros tipos de cinema que não são de Hollywood, podendo ser europeus, asiáticos, etc (sejam obras de autor, independentes ou dos melhores estúdios).
      É por situações dessas e outras mais (como o simples facto de ver por escapismo... sentir estímulos divertidos e simples... e menos cerebrais), que a leitura do teu texto soa unicamente a arrogante, intolerante, tendenciosamente estúpido a pontos de toda a alusiva elevação de cultura que apregoas soar a palavras proferidas por alguém que evidencia ser na verdade inculto e imaturo.

      Obviamente, que não vou perder mais tempo contigo neste assunto... pensa mais e diz menos. Escreve do que gostas e valorizas... e não ataques o que as outras pessoas escolhem ver.

      Obs: para te simplificar... a minha metáfora aludia a: mesmo que tantos criticos snobs negativamente façam barulho, os diferentes tipos de cinema vão continuar a acontecer.

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    3. De ser digno da sua palavra ou não, não importa muito para a argumentação, eu podia dizer o mesmo e desclassificar os seus argumentos com base apenas nisso. Mas isso não contribuí para absolutamente nada, como é facilmente entendível. Mais estranho é o de as minhas afirmações tão mínimas e limitadas serem objectivo de tal análise e repúdio, é como se tivesse tocado num ponto intocável e questionado o inquestionável. Mexido com a ordem natural das coisas. Se o meu texto o ofendeu tanto não será de facto por insultos e proclamações xenófobas, mas apenas pela argumentação. E quando a argumentação ofende algo se passa de errado.

      Hollywood pode ser uma indústria, mas é uma industria que tem por base o cinema. Você fala de templates, estilos e modelos como se estivesse a falar de linhas de produção em fábricas. Mas nós não estamos a falar de fogões nem pacotes de arroz. É cinema. No meio disto tudo, de todas as formas de comunicação e de espalhar valores, são a televisão e o cinema os mais consumidos hoje em dia. São estes então os valores e os costumes que recebemos, os comportamentos que copiamos, aquilo que é recebido com aceitável por todas as gerações. Porque tudo isto é também uma questão sociológica. Se esta é uma verdade então não pode ser menos do que um crime a perpetuação do mesmo argumento e mesmas frases feitas e da mesma estupidez (cá está a maldita palavra). Em termos simples era mais fácil não educar uma criança e ensiná-la a fazer apenas o trabalho que faria quando fosse adulta (ou em bébé, mais ou menos como faz a nike na china), mas isso constituiria um dos crimes mais ignóbeis imagináveis. Da mesma maneira classifico de crime aquilo que uma indústria com tanta capacidade de influência faz sobre a população em geral. Os óscars são também vendidos como prémios à qualidade, mas mais não são que distinções entre o indistinguívelmente igual, o culminar de todo um processo, como o senhor diz. E tudo isto, se já só por si constituí crime, rotular filmes, como o fazem nesta cerimónia, e rotulá-los como o que de melhor se fez durante o ano é das coisas mais abjectas que posso encontrar. Mas é tudo a favor de um lucro, uma corruptela para maximizar o dinheiro ganho nos estudios, bem à moda das pequenas máfias portuguesas. Imaturo é pensar que isto é aceitável.

      Pode também fazer o teste e ver que raio de alternativa tem aos blockbusters, e vai ficando pior à medida que as cidades ficam mais pequenas. Eu cresci numa cidade onde antigamente passavam os filmes do Godard e agora passa primeiro o Avatar do que um dos muitos filmes que são considerados genialidades pelo mundo. Digo-lhe isto porque não existe alternativa quase nenhuma, e na maior parte das vezes a alternativa que existe é zero. E a não ser que as pessoas comecem a mudar de cidade não vão ter acesso a elas. Como é isto o único que alcançam e vêem enquanto amadurecem não desenvolvem a vontade de procurar algo diferente. Isto porque a bendita industria, que tem claro todo o direito, tenta fazer a todo o custo com que isto aconteça. Estupidez é permitir isto e não reclamar.

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    4. Mas, ó maldita ora, aparece alguém a dizer isto e veja-se o crime dos crimes, argumenta e tenta explicá-lo logicamente. Deve ser claro abjecto de repúdio. A cultura mostra-se pela qualidade de argumentação, pela capacidade de relativizar e comparar, mostras disso não vejo. Mas passando isso, já disse que desclassificar os meus argumentos com acusações constitui uma falácia. Se se digna a responder aos meus comentários ao menos devia fazê-lo de uma maneira diferente da de um adolescente revoltado.

      Tudo o que digo argumento-o, digo-o e volto a dizê-lo, e custa-me a crer que um texto fundamentado e com referências palpáveis seja pensar pouco e criticar muito, isso é o que está aqui em cima. Mas isto revoltá-lo assim, é sinónimo de algo, pense nisso, siga os seus próprios concelhos.

      Mais estranho de que tudo isto, e digo-lho com muita sinceridade, é o senhor estar ciente de uma realidade em que filmes são produzidos como em verdadeiras linhas de série e gostar tanto deles. E como discorre tanto sobre as características e diferenciações quase impossíveis de ver entre eles. Não seria maior obra, com a sua cultura, que diz maior que a minha, fazer algo mais relevante que isso? Porque em termos de maturidade, debater filmes especialmente feitos para adolescentes, que vão ao cinema ao sábado à noite, não demonstra muita.

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    5. Axel, o desejo de veres sair continuadamente de Hollywood cinema como um estado de arte é legitimo mas isso não vai suceder daquelas paragens. Há que os saber entender, perceber que actualmente o fazem a pensar em gerar dinheiro (e conseguem-no). Nem tudo é fraco e nem generalizemos pois pelo menos há um compromisso deles em fazer obras de diversos níveis de qualidade e para diferentes espectadores. Atacar filmes como "Hugo", "Avengers", "Avatar" ou Tranformers" não vai alterar nada. Quando os refiro e classifico-os como uma indústria é mesmo no sentido de aproximação a linhas de produção. Se constatarmos bem... é o que eles têm feito e o actual star-system resulta em combinações de junções de famosos (desde actores, a realizadores e todos os outros envolvidos).
      Há melhor cinema, com mais arte ou pelo menos com maiores intenções disso mas para isso deves procurar noutras paragens além Hollywood. Prestar atenção ao que surge e rodeia festivais como o de Cannes ou Berlin, são prova disso. Se são filmes que não são vistas pelas massas é outra questão, que envolve realmente hábitos adquiridos e é sim Hollywood muito responsável pela depuração do que se passou a entender ser um filme. Num certo teor do que dizes tens uma parte da razao mas a forma com que dirigiste as tuas intenções, a meu ver, falham. O entretenimento não significa estupidez ou ser menos culto.
      Mas temos de nos alegrar por existirem muitos tipos de filmes e a possibilidade de escolha. Digo que também seria aborrecido só existir cinema artístico... há espaço para tudo. É isso que respeito e valorizo. cada um tem a capacidade de escolher e ver o que entender. E não deve ser critica ou rebaixado por isso.
      São noções como esta que sempre quis aludir neste debate e que manterei.

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    6. Caro Armindo, entendo o que quer dizer, mas reconheço como muito revoltante o comportamento destes estúdios, que monopolizam o mercado e reduzem as pessoas a verem o produto que comercializam. Com isso não posso compactuar nem lhes posso reconhecer qualquer valor. De Cannes e de outros festivais aparecem realmente produtos diferentes, tão pouco divulgados e às vezes tão desprezados. O que me revolta mesmo é a redução que hollywood exerce em cada pessoa que vê os seus filmes. Uma redução não necessária, porque eu acredito existirem alternativas (mas muito poucas em relação à quantidade que se produz do outro lado, mais uma vez graças ao monopólio exercido), nunca me diverti tanto num filme como ao ver Kusturika, nem nunca me ri tanto como ao ver Monty Python. As pessoas renegam-nos porque não estão dentro do estilo a que estão habituadas, ao estilo que Hollywood as habituou. Se este produtos são sui generis, e são diferentes na linha daquilo que é feito, se não existem outros que lhes sigam, uma maior quantidade de coisas com qualidade é graças a Hollywood, que tudo tem a mania de simplificar e de reduzir ao seu plano. Com isto não posso compactuar, com a humanidade estar a perder obras de arte por não se incentivarem e financiarem as mesmas e com as instituições que reduzem as pessoas a uma nulidade que fala e age como se fosse um preconceito saído de um filme.

      São estas noções que me levam a escrever o que escrevo, é essa a revolta que quero mostrar, pois não haverá nada mais triste do que haver tanta capacidade e nada se fazer.

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  3. Como li há dias noutro blog passo a citar "A liberdade de expressão tem o seu lado negro"

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    1. A liberdade de expressão existe para se poderem dar opiniões fundadas, com base em argumentação. O seu mau uso é quando se utiliza a mesma para fazer algo nocivo contra alguém sem se ter razão para tal. Espero que tenha ficado esclarecido.

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