quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Morte da 7ª Arte (Variação Spielberg)


O Cinema e o Onanismo Hollywoodesco


Esta deverá ser a minha estreia aqui, com uma crónica a modos que mensal e de tema aberto. E dando uma nota ao estimado leitor aqui digo: não esperes nada, não fiques com expectativas, nem leves a sério nada do que eu escrevo porque não passa de pura ficção criada pelo meu pensamento confinado nele mesmo. Provavelmente o melhor será nem sequer ligares a nada do que eu digo quando digo que não ligues ao que eu digo porque este texto foi criado entre o tédio de ver um filme francês, com banda sonora espanhola cuja actriz principal é uma belga chamada Cécile de France, e a influência severa do sono. A primeira cena foi uma perseguição em fast-forward, estilo Benny Hill, com a música das Nações Unidas. E já disse o suficiente sobre nada…


Já ouviram aquela expressão “quero ver um filme descontraído, quero desligar”? Pode ser seguido de “uma comédia ou uma treta dessas”. Para mim isto já constitui um estranho problema, porque tenho dificuldades severas em ver um filme que consiga descrever como treta ou adjectivo similar. O instinto cultural da sociedade ocidental é encarar o cinema como um acto masturbatório. E diga-se em abono da verdade que Hollywood facilitou a tarefa a um nível tecnicamente perfeito. Existe um conjunto de regras e premissas a seguir para o bom filme de entretenimento. Então temos a regra dos três segundos, absolutamente todos os planos têm de durar três segundos ou ainda menos; podem mesmo dedicar-se a contar, a partir de certo momento começa a ficar irritante. Esta regra impede o espectador de entrar em estado de “seca”, não vá ele começar a divergir mentalmente para outras coisas. A premissa do barulho de fundo ou banda sonora, que nos permite saber o que temos de pensar ou sentir em cada cena. A história, a certos modos cíclica, inclui sempre um herói e um objectivo, e este epíteto chegou a um ponto em que as pessoas já não conseguem conceber um filme sem um personagem principal com um objectivo qualquer e no fim vir a saber se o conseguiu alcançar ou não. Então serão mais ou menos assim: ganhou a guerra aos maus da fita, ficou com a gaja, ganhou a guerra e ficou com a gaja (o Avatar é um filme que me irrita especialmente neste ponto, porque se me puser a pensar em termos de qualidade de argumento, densidade de personagens, originalidade da história, lições de ética e moral, o capuchinho vermelho dá-lhe um enxerto de porrada, e o lenhador não fica com a gaja (avó ou capuchinho)). E sem grande esforço acabei por resumir tudo de uma vez. Até os filmes de culto lá feitos (mecanismos compensatórios a vários magnânimos cinemáticos que não gostam de Hollywood) são variações destas mesmas histórias. Se em vez de ganhar escreveres perder consegues ficar com o Titanic e o Moulin Rouge. Se ganhas a guerra aos maus, ou cumprires a tua missão e finalmente puderes recuperar a tua família ficas com o Gladiador ou o Inception (se alguém tentar vender um bom filme que tem um gajo a dizer “Take cover!” e começar a despejar balas com explosões várias à mistura, desconfiem do filme). E sei que haverá quem diga “que raio queres que eles façam?”, e se fizerem essa pergunta o nível de formatação já chega (simplesmente já chega).


Não quero dizer que não há alternativas, que não há filmes bons em Hollywood ou fora dela (principalmente fora). Muitos deles já passaram por este blog. Este não é um texto de insurgência, tenta limitar-se a ser descritivo, com um pouco do meu pensamento nele mesmo, obviamente. Eu sou o primeiro a dizer, até pela minha natureza um pouco anarquista, vejam os filmes que quiserem, tenham os gostos que quiserem, estão no vosso pleno direito em dizer o tal “gostos não se discutem” e “se eu quero e gosto vejo e ponto final”. E com toda a razão. Mas se me vierem dizer “o 2001: Odisseia no Espaço é uma seca de merda” eu vou ser um pouco desagradável, e com toda a razão. Sou sincero em dizer que depois de até os finais imprevisíveis nestes filmes serem previsíveis, as personagens as mesmas, os planos os mesmos, o argumento o mesmo, vos peço: deixem-nos morrer à fome. Se quiserem descontrair durmam ou façam sexo e se não tiverem par masturbem-se, mas a sério…