“Mel Gibson Está Morto” dizia Zaratrustra
A primeira coisa que ocorreu à primeira pessoa a quem
mostrei a minha primeira crónica por vontade própria, foi dizer-me: e o que é que há de novo? Nada além daquilo que sempre foi evidente para
mim. Quase tudo o que é feito no Mundo cinemático ou não é mau, e contra toda a
razão, quase todas as pessoas gostam do que é mau. E como estou farto de falar
sobre isso, este mês está “Um Tempo Para Cavalos Bêbados” (ou “Zamani Barayé
Masti Asbha”), mas já ninguém liga ao bom cinema iraniano. O que eu queria dizer
era que vou falar do que me der primeiro na minha real revolta contra o mundo
do cinema, não fosse esta a morte dessa arte.
Pois aqui vai, sem grandes rodeios e creio que sem grandes
surpresas, um dos princípios mais errados que existe no mundo do cinema, a
adoração dos actores. Como é evidente a maioria dos actores são um bando de
idiotas abastados e egomaniacos. Aos que se revoltaram já nesta frase, pensem
só no seguinte: Shiloh Jolie-Pitt, e eu que tanto queria fazer um bonito jogo
de palavras, mas a coisa chega a ser tão metafísica para mim que eu não me
creio capaz de realizar qualquer tipo de gozo sobre isto, de qualquer maneira
faz-me lembrar a marca de chinelos da minha avó. Sendo sincero, se visse este
nome num romance burlesco qualquer teria a sensação de ser demasiado forçado e
irrealista para nomear fosse o que fosse, chinelo ou não. E estes homens e
mulheres acham-se no pleno direito de escolher filmes, alterar argumentos, dar
nomes risíveis a meninos do terceiro mundo e, veja-se a enorme ousadia, formar
opinião pública. E vocês dizem que estou a exagerar, que escolhi logo duas
personagens que devem ter, entre os dois, um filme e meio aguentáveis. Digo-vos
com toda a sinceridade que podia ter escolhido pior, neste mundo de
cientologistas sem expressão facial, fantasias adolescentes vampirescas, 20 a
22 James Bonds, actrizes meritórias pelas suas excelentes glândulas mamárias,
sex symbols quinquagenários, homens de acção de boca torta, homens de acção de
boca direita mas que mesmo assim não sabem falar e que agora até são
governadores… Como poderia eu ousar dizer menos desta gente? Revolto-me contra
qualquer pessoa que esteja sempre a avaliar performances, dizer que este ou
aquele papel foi brilhante, a interpretação genial e mais o que for… Os actores
não passam dos bonecos animados que estão à frente da câmara, banais e sem
personalidade (se aspirarem a ser bons actores). Não podem passar disso. Já se
perdeu a ideia do que é um bom filme, um bom argumento, uns bons planos, uma
boa montagem. Já ninguém quer saber do homem que escreve ou faz, de todos os
blogs de cinema que vejo, tantos falam extensamente do Harrison Ford e do Keanu
Reeves, fazem-lhes resumos de carreira, melhores momentos, filmes marcantes, um
pedestal infindável de dados fascinantes sobre a irrelevância absoluta. E o
Phillip K. Dick? O homem cujos contos deram origem a inúmeros argumentos de
filmes? Nunca vi uma palavra escrita sobre o homem. Ele podia não fazer filmes,
podia não ser bonito nem fazer cenas de sexo no grande ecrã mas as histórias
dele sempre foram qualquer coisa de brilhante. Não seria muito mais
interessante escrever sobre uma pessoa genial? Não seria de maior valor fazer
retrospectivas sobre personagens tão marcantes como George Gershwin? Ninguém
quer saber do Óscar para melhor argumento original, mas toda a gente sabe quem
ganhou melhor actor, melhor actriz, melhor actor secundário, melhor actriz secundária
e até melhores efeitos especiais (e desde já, e desculpando-me pelo aparte,
quero agradecer à academia dos Óscares por seleccionar os filmes que não devo
ver).
A sobrevalorização desta gente, a importância que se lhes dá é
algo de muito perigoso. Não podem ser estas as referências do mundo moderno. Estas
pessoas tornaram popular a hipocrisia de ter pena pelos pobres e ganhar
dinheiro à custa deles. Houve até uns
tempos em que a coisa mais cool do
mundo era dizer mal do Presidente Bush na televisão, chegaram até a fazer
música sobre isso, a coisa tomou tal dimensão que agora tomamos isso como
verdade absoluta. Independentemente de o homem ser uma besta ou não, eu não
quero que seja esta gente a definir isso. Quero ainda menos que eles se achem
capazes de dizer seja o que for sobre isso. Eu não vou ao cinema ver estes
personagens, se bem que alguns deles me façam ficar um pouco como no “Die
Geschichte vom weinenden Kamel” ou melhor dizendo “A História do Camelo que
Chora”, mas também já ninguém liga ao bom cinema alemão sobre mongóis. Alguns
deles atacam de facto a minha sensibilidade, em alianças conjuradas no inferno,
que até dão vontade ao Orson Wells, já na cova, de nunca ter feito brincadeiras
na rádio. Alguns deles chegam a pensar que são tão bons que até fazem filmes gore com Jesus Cristo. O que não deixa
de ter a sua piada, Nietzsche disse que Deus estava morto, este homem matou-o.
Não quero dizer de maneira nenhuma que não haja actores bons e
maus, não devem é ser tomados para além da sua normal relevância. Olhando para
aquele que eu acho uma referência na interpretação de personagens, o grande
Petter Sellers, ele era conhecido por ser um homem sem personalidade, ele era
apenas as personagens que interpretava. Os actores são isso, o último grau da
arte, o último instrumento necessário, nada mais. Não são os homens das ideias,
não são os homens que compõem, não são essencialmente sequer os homens que
decidem o que eles próprios devem fazer, nem sequer isso lhes compete. Não digo
para não falarem dos homens e mulheres que vêm nos filmes, mas se quiserem ter
o mínimo de coerência e forem verdadeiros apreciadores da arte, existe uma
lista extensa de ilustres desconhecidos que têm muito mais lugar na história. E
agora vou ver de novo “Yi Yi” ou “um um”, pena já ninguém ligar ao bom cinema
japonês…