sábado, 30 de julho de 2011

A Morte da 7ª Arte (Epílogo)


A Morte Morreu

A reprodução do salmão é fantástica. Os pais fertilizam os ovos espalhando esperma por toda a água em seu redor, as mães ficam à espera, ambos morrem e são comidos pelas crias. O salmão é hiper-moderno porque, além de renovar, recicla as gerações. Os salmões não tentam ser como os pais porque os conhecem mas porque são biologicamente comandados a tal.  Acho que a conclusão da história é por de mais evidente, se já leram as restantes mortes já a descobriram de certo. Não fica mal dizer, mesmo assim, que sendo nós pessoas de memória e não forçados, como o salmão, a reduzir a renovação de gerações a uma inutilidade teórica, que dizer o que já foi dito e fazer o que já foi feito é no mínimo gozar com o coitado do salmão. E eu até gosto de salmão, mesmo que seja um peixe gordo, porque eu não discrimino pela aparência. É a personalidade que conta, não o exterior, tal como nos filmes, ser atractivo ao olhar e ter efeitos especiais derivados da maquilhagem e do guarda-roupa não contam para nada.


Sentindo eu agora a necessidade de dizer alguma coisa que não confie apenas no poder da extensa ironia, vou fazer um pequeno apontamento de uma ideia que é sempre muito simples de perceber mas muito difícil de se pensar. Se alguém gostar de um filme não tem de pensar, qual rainha matemática, que o filme é bom. Este pequeno raciocínio que muito nos acompanha vem da simples falácia que é pensar que a nossa realidade se aproxima mais da verdade que a dos outros e que, por isso, o que nós gostamos é o que é realmente bom. Os agraciados são aqueles que gostam do que é bom. E como sabemos nós o que é bom ou mau? Nada mais do que esta pergunta assola tudo o que fala e portanto critica. É uma pergunta difícil de responder mas tem resposta. A resposta está em todas as páginas da humanidade, reside nas pessoas que são génios, e para as distinguirmos melhor devemos recuar um pouco, para nos afastarmos invariavelmente dos imbecis que os odeiam e rodeiam e que eventualmente desaparecem, não por não existirem mas porque já não é um tema actual o suficiente para ser discordado porque já faz parte de um dogma. Falarei então de Miguel de Cervantes, o autor do suposto primeiro romance moderno, inventor do conceito do anti-herói e, pessoalmente falando, progenitor de quase todos os artifícios de escrita hoje usados pelos grandes escritores, mas isso seria objecto de uma grande tese. Falando agora das novas gerações, os que mais se aproximam de Dom Quixote são invariavelmente os mais expeditos na arte, falando só do anti-herói, já foi usado por Gogol e Dovstoievski, por Flaubert, por Flannery O’Connor e Tom Wolfe, por Oscar Wilde, por Salman Rushdie e basicamente quase todo e qualquer romance que tenha ficado na história. Fazendo o exercício oposto, encontra os livros onde os heróis ainda são pessoas não-humanas como os de Dan Brown ou outros muitos que fazem com que ler já não seja um exercício de deleite mas um passatempo vazio. Passando à música, hoje em dia vê-se que o grande experimentalismo musical vem sempre do Jazz e que eventualmente todos aqueles que são os grandes músicos mais cedo ou mais tarde se aproximam do Jazz, na sua música e na sua maneira de ser. O improviso, a não obsessão com a composição e o aperfeiçoamento do som mas sim com o conteúdo. Todos os grandes músicos de Jazz hoje em dia se aproximam eventualmente de Miles Davis, homem que já foi muito odiado e até teve o descaramento de ir a concertos do Prince, mas digo-vos que se fosse para ouvir a “My Name Is Prince” ou a “Sexy Mother Fucker” também eu ia. Partindo para o cinema existe também um denominador comum aos grandes filmes, que reside na insistência de transmitir algo para além de uma simples história. Só na conjugação desta premissa com a grande fotografia e as grandes sequências é que se pode ter um grande filme. Os outros que são apenas parte serão sempre menores, e já exaustivamente enchi os meus textos de explicações para este facto.


Com todas estes sentidos conjuntos de palavras quero dizer que a genialidade se aproxima eventualmente uma à outra. Não é difícil encontrar os génios, aqueles que têm uma legião de idiotas contra e se afastam sempre dos cânones. Que nunca se conformam com o que já existe e procuram algo mais acima disso, assim é a evolução do pensamento. Não confundam, eu não quero dizer que são todos iguais, mas a matriz de que partem, os princípios básicos que os regem são os mesmos e as ideias que os acompanham têm também tendência para se aproximar, mas são na sua proximidade de uma diversidade imensurável. Não é portanto um padrão mas a negação à natureza de que o conhecimento é inútil. Eu admiro tudo o que transpire inteligência, o meu gosto sobre as coisas vai sempre contra quase todos, mas a minha reflexão sobre elas é compreensível, e pretendo com isto demonstrar o que para mim é evidente. O meu gosto coincide exactamente com esta busca, que é uma grande parte de mim próprio, defendo-a porque a considero correcta. Como é de conhecimento geral, algo fundamentado é verdade até prova em contrário e, como é contrário ao que normalmente se diz, tudo o que é arte é debatível e definido em melhor e pior independentemente do gosto de cada um. Para mim esta ideia é evidente, para vocês pode ser a maior estupidez ou ser incompreensível, para o mundo nem sequer interessa.

PS: A morte morreu mas volta para Setembro, talvez renovada e em novo formato. Este foi apenas um bom truque de propaganda.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Cameron)


Duas Andorinha, um Fio e um Coco

Por mim desistia de dizer qualquer coisa com sentido, faria longas frases sobre absolutamente nada, mas isto é uma crónica e não quero começar com confusões ideológicas. A minha assombração contínua de parecer repetitivo não desaparece. Mas isso depende sempre da vontade da escrita em transparecer algo diferente. Não há menor existência do que aquela que aspira a nada, e a maneira de o homem conseguir isso é através da repetição, mais que não seja da estupidez. Juntando tudo aquilo que tento fazer: transmitir uma ideia inteligível, explicá-la e torná-la aceitável e mudar uma ideia qualquer na cabeça da pessoa que o estiver a ler; chego à conclusão que escrevo para ninguém ou bastante perto disso (haverá excepções pouco mais estendidas que a proximidade do conhecimento pessoal, e mesmo aí tenho muitas duvidas em conseguir fazer admitir um novo conceito). Essa, parecendo que não, é a melhor coisa que me podia acontecer. Não preciso de ceder à ideia moderna de reciclar conceitos já expostos.


Agora a parte do cinema, vá. Falando de bom cinema, fico sempre mais que entusiasmado quando vejo algo que me faz ter de desistir de uma ideia minha. Algo que pensava ser verdade e não o é. Esse verdadeiro momento em que existe algo que ao contrário da nossa vontade nos faz desistir de ser casmurro. A evolução do conhecimento humano depende precisamente disto, não da dúvida que nos faz por uma hipótese na qual estamos completamente correctos, mas sim do erro absoluto e da mudança de paradigma. Aborrece-me a ideia de dizer porquê, não tem sentido eu fazê-lo e isto é por si só evidente. Mas também pensava que quanto a filmes a mediocridade fosse também evidente por si mesma, mas há quem insista em dissertar longamente sobre coisas indefensáveis. Aqui também se pode entender, erradamente, que tento reduzir a arte a uma ciência ao incluí-la num processo de busca e conhecimento. São ideias opostas, incompatíveis e pouco saudáveis de juntar. Já foi tentado na música, chamaram-lhe a música clássica, e por isso a maior parte dela é inaudível a não ser por hipocrisia derivada de pretensiosismo intelectual. Hoje em dia, o cinema pensado como uma fórmula científica traduz-se em Hollywood. Quanto à razão de isto ser e a felicidade que isto trás às pessoas já disse o suficiente. A mim a felicidade vem do momento em que existe algo de novo e mais interessante. Continuo a pensar que a ideia de um ser humano desperdiçar a sua vida com o nada devia ser crime. Continuo a pensar que são precisos padrões, algo que guie quem não tenha por onde se guiar. A ideia de que todas as ideias devem ser aceites é uma idiotice absoluta. A ideia de que cada um tem um domínio da realidade equivalente ao de outros é abusivamente errada. O indivíduo que se acha correcto quando tem ideias menores continua a ser o maior inimigo da cultura e a longo prazo daquilo que faz a humanidade algo que deve ser admirado com alguma proximidade. A felicidade devia ser algo a que devemos aspirar, mas não sacrifiquem a humanidade por isso. A minha alegria está em cada coisa que muda tudo, esse poder que na ciência tanto demora, consegue ser feito em noventa minutos de filme, toda esta possibilidade e vocês continuam a pagar para ir ver o Bay. A ideia de estar morto, um coelho gigante e outro com dentes bem pontiagudos, casamentos na ex-Jugoslávia, cavaleiros sem braços, a perseguição feita por um loiro que parte dedos e uiva, uma câmara tremida a filmar uma islandesa, ultra-violência com um fato que sempre quis usar em qualquer dia menos no carnaval, toda a parafernália que o Miike pôs no Ichi e me fez perceber que existe muito mais do que eu pensava que era possível incluir num filme de qualidade sem ser desnecessário… Pequenas coisas que levam algo mais que o mundo lá dentro.


Só em jeito de adenda e porque eu gosto de fazer três parágrafos vou fazer uma lista de algum do lixo cinematográfico absoluto que anda por aí (condicionada aos filmes que vi), disponibilizando-me a explicar o porque de cada uma das minhas escolhas, podendo até fazer uma morte da 7ª arte especial só para esse fim se assim quiserem. E faço-o porque ao contrário de quem já é mais entrado na vida ainda tenho idade para isto. A. I., Slumdog Millionaire, Lord of the Rings (a trilogia), os Harry Potter’s todos (até os últimos que ainda não vi), Terminator 2, Terminator 3, Cars, Avatar e as sequelas que ainda não saíram, Jurassic Park, 2 Indiana Jones que vi (porque já não me lembro se vi o terceiro), qualquer dos Transformers que admito não ter visto na integra, qualquer coisa com o Vin Diesel, uns tantos Super-Man, os X-Men todos, Wanted, War of the Worlds (2005), Minority Report, The Day After Tomorrow, Mission Impossible 2 (porque não consegui ver nem sequer 5 minutos do primeiro), Star Trek’s, qualquer um dos Blade, E. T., aquilo a que chamam hoje em dia “comédias românticas” (como The Sweetest Thing), os três últimos Star Wars que afinal são os primeiros (embora os outros não estejam assim tão longe), Matrix Reloaded e Matrix Revolutions (o primeiro se safou-se daqui por muito pouco), Oceans não-sei-quantos, Die Hard’s, Spider-Man, Hulk, incontáveis James Bond, o Rocky e o Rambo, Planet of the Apes (2001), Independence Day, Wild Wild West, Man In Black (especialmente a sequela e desde já quero mostrar o meu desagrado na insistência do Will Smith andar sempre a ouvir o Songs In the Key of Life), Armaggedon

PS: Esta é uma muito pequena amostra, podia continuar mas não acabava. Para uma próxima ficará uma lista de filmes maus um pouco acima destes, obrigatoriamente muito mais divertida de fazer.